domingo, 22 de abril de 2012

Pra que ter uma civilização se não queremos ser civilizados?



AVISO:
Este post contém violência, linguagem chula, revolta, violência, violência e a minha opinião inútil.

AVISO 2:
É altamente desrecomendado que você (ou qualquer um) leia este post.

AVISO 3:
Vai ler memso esta bagaça? Então tá. Só não diga que eu não te avisei.

E dito isso eu estou habilitada a dizer as barbaridades que eu quiser e bem entender


Ninguém mais fala sobre nada, eles apenas regurgitam o que vêem na TV, ouvem no rádio ou vêem na web. Quando foi a última vez que você realmente conversou com alguém, sem que ficasse mandando mensagens ou olhando para a tela ou o monitor? Uma conversa sobre algo que não fosse celebridades, fofocas, esportes ou pop-política? Sobre algo importante? Sobre algo pessoal?

Eu defenderia sua liberdade de expressão, se achasse que ela está ameaçada. Eu defenderia sua liberdade de expressão de querer mostrar piadas racistas, sobre gays, de estupro e mau gosto sob o pretexto de ser “ousado”, mas isso não é ser “ousado”, isso é apenas o que vende. Eles não poderiam abusar mais da baixaria comercial. Porque está é a geração do “não, você não disse isso”, onde um comentário chocante tem mais peso que a verdade. Ninguém tem mais vergonha e nós deveríamos celebrar isso? Eu vi uma mulher jogando um absorvente usado em outra na TV noite passada, em um canal que alega ser para mulheres modernas. Crianças batendo umas nas outras e postando no Youtube. Lembra-se quando comer ratos e vermes em “Suvivor” era chocante? Hoje é quase banal. Tenho certeza de que as garotas de “2 Girls, 1 Cup” vão ter seu próprio programa de encontros na VH1 a qualquer momento.

Sendo assim, por que ter uma civilização se não estamos mais interessados em ser civilizados?


O texto acima foi tirado de umas das cenas do começo do filme God Bless America dirigido pelo ator e comediante Bobcat Goldthwait (do nostalgicamente-sessão-da-tarde “Loucademia de Polícia”).

A história começa quando Frank, desgostoso com todo o barulho “sem conteúdo” que é vomitado em suas orelhas dia e noite, descobre que está com câncer no cérebro e tenta se matar. Com o cano da arma dentro da boca e diante de uma televisão que sintonizada em um realiti show onde uma adolescente rica tem um chilique por conta dos detalhes de sua festa de 16 anos (referência clara ao “My Super Sweet Sixteen” da MTV), diante da cena ele resolve que antes de morrer vai matar a chiliquenta. Depois de dar cabo da vida privilegiada da adolescente histérica, Frank conhece Roxy, que estudava com a jovem assassinada e que nutre o mesmo desprezo pela civilização. Roxy convence Frank a seguir exterminando os fúteis espalhados pela America. A partir daí sobram críticas (e balas) para todos os lados.



Antes mesmo do lançamento o filme já era escorraçado por aqueles que achavam que o banho de sangue era mais apologia à violência e às armas do que crítica a qualquer coisa. Mas, na minha opinião inútil, o banho de sangue é totalmente justificado e toda a violência do filme não tem nada de gratuita. Este é mais um daqueles casos em que a ficção ousa falar (e mais precisamente fazer) o que a realidade não nos permite.

Com o nome do filme ironicamente sugere, God Bless America é uma crítica ao culto à futilidade que domina os meios de comunicação dos EUA, mas já que brasileiro adora copiar o pior de tudo quanto é canto (e não só da terra do Tio San) acredito que a crítica também vale para nós (o “nós” nesse caso pode muito bem ser interpretado como “nós, a raça humana”).

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Os Portões do Palácio

O Rei se levantou do trono para polir sua coroa. Ela é feita dos mais limpos papéis amassados, reluzente e cravejada pelos enfeites que pôde encontrar no caminho. Todo um reino a controlar, tão pouco tempo se tem, as horas passam tão veloz quanto os duelos entre cavaleiros. Ah, o que seria deste reino sem este Rei? Seus súditos apressam-se em poder ouvi-lo, a multidão espera por um breve momento em que possa vê-lo, mesmo que por meros segundos.

Do alto da mais alta torre, ele contempla todo seu império conquistado com muito suor. É digno de vastos pensamentos que parecem aumentar ainda mais todo o território já conquistado. Ele sorri. Seu reino é justo, não há guerra, ou fome. Trata as pessoas por igual, sejam simples aldeões, sejam bispos e condes. Há muito motivos para se orgulhar do que tem, mas há pouco tempo para se apreciar tanta beleza.

A masmorra é a mais alta torre do palácio, onde o Rei está preso. Ele pregou a igualdade, foi contrariado pelos nobres e decidido que seria trancafiado e seu parente mais próximo, um ambicioso conde, ficaria no poder, elevando as taxas e elitizando ainda mais o estilo de vida da nobreza. Ah como é injusto pensar que este mundo é que é o mundo real e que um Rei que poderia mudar o mundo, agora vive preso, drogado em seus devaneios, acreditando que tudo é como sempre quis que fosse.

O Rei não tem como fugir. As paredes são grossas. Barras de ferro na janela. Foi dado como morto. Poucos sabem quem vive na masmorra, ainda menos pessoas tem acesso a ela. Mas o rei vive feliz, ele sorri, suas gargalhadas são contagiantes. Ele ainda vive no seu mundo de igualdade, não percebe que está preso e só há muitos anos. Não percebe que perdeu sua razão, mas vê seu reino, ainda limpa sua coroa feita dos restos que encontrou naquela prisão, ainda encontra forças para sonhar e viver em seu mundo, em seu infinito particular, onde o cetro e o manto sagrado são de veludo e não de restos de roupas rasgados. Ainda é o mesmo Rei que sonhou com a igualdade, mas que o poder da nobreza o impediu de levar adiante um sonho onde a nobreza, clero e plebeus fossem realmente iguais. Pobre Rei. Viveu uma utopia, adormeceu e acordou encarcerado, até o fim de seus dias, e, nunca mais ouvi-se falar da igualdade entre as três classes. Pobre Rei que pereceu séculos atrás. Pobre de nós que nunca pudemos escutá-lo.