quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Huxley, o macaco e a essência



"O amor elimina o medo; mas reciprocamente o medo elimina o amor. E não apenas o amor. O medo elimina a inteligência, elimina a bondade, elimina todo pensamento de beleza e verdade. Só persiste o desespero mudo ou forçadamente jovial de quem pressente a obscena Presença no canto do quarto e sabe que a porta está trancada, que não há janelas. E então a coisa o acomete. Ele sente uma mão na sua manga, respira um bafo fétido, quando o ajudante do carrasco se inclina quase amorosamente para ele. “É a sua vez, irmão. Por aqui, tenha a bondade.” E num instante o seu terror silencioso se transforma em frenesi tão violento quanto inútil. Não é mais um homem entre os seus semelhantes, não mais um ser racional falando articuladamente a outros seres racionais; somente um animal ferido, ululando e se debatendo na armadilha. Pois, no fim, o medo elimina no homem a própria humanidade. E o medo, meus amigos, o medo é a própria base e fundamento da vida moderna. Medo da tão apregoada tecnologia que, enquanto eleva o nosso padrão de vida, aumenta a probabilidade de nossa morte violenta. Medo da ciência que tira com uma das mãos ainda mais do que tão prodigamente distribui com a outra. Medo das instituições manifestamente fatais pelas quais, em nossa lealdade suicida, estamos prontos a matar ou morrer. Medo dos Grandes Homens que elevamos, por aclamação popular, a um poder que eles usam, inevitavelmente, para nos massacrar e escravizar. Medo da guerra que nós não queremos mas tudo fazemos apara desencadear."



Uma vez, há algum tempo, eu quis escrever um post sobre O Macaco e a Essência – livro de Aldous Huxley de onde o treco acima foi retirado. Essa foi uma daquelas aspirações estupidas que se tem de vez em quando e que raríssimas vezes dão em alguma coisa e que definitivamente nunca dão certo.

Como em qualquer texto metido à besta que busca enaltecer um livro que o escrevinhador/blogueiro achou muito, muito, muito bom, este post começaria com a sinopse ou uma breve explicação sobre o que o livro que deve ser enaltecido trata, e este seria o primeiro erro, já que este tipo de informação é encontrado facilmente (e nós agradecemos ao Google por esta facilidade) e todo mundo sabe que qualquer informação que você vai atrás por interesse próprio é muito mais apreciada do que aquela que é esfregada na nossa cara.

Mas o grande problema de querer escrever qualquer coisa sobre este livro é que tudo e qualquer coisa que eu escrevesse ficaria inevitavelmente aquém do livro (porque o bagulho é bom e a brisa é louca). E enumerando mais alguns contras à ideia do post sobre O Macaco e a Essência, a vontade foi engavetada e ficou em coma por um bom tempo, até que está semana eu esbarrei no treco acima e ela resolveu ressuscitar-se.


A solução para suprir esta vontade imbecil foi simples: postar o trecho acima e deixa-lo agir como tapa na cara avulso e resumir este blábláblá todo em duas palavras: leia Huxley. Aliás, leia qualquer coisa do Huxley. Mais aliás ainda (esta expressão existe?), leia qualquer coisa de qualquer grande autor, permita-se ter acesso às grandes ideias e desfrutar da companhia das grandes mentes, mesmo que seja apenas através de um livro.

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